12
Fev 12

 

*   *

 

Que é feito da “Primavera Árabe”?

 

Fez-me confusão, desde o primeiro momento, o fulgurante alastrar da revolta na Tunísia ao Egipto, à Líbia, ao Iémen e a outros países do norte de África, da Península Arábica e do Próximo Oriente.

As dúvidas que eu tinha começaram a ficar mais claras com o caso da Líbia, ou seja, com a intervenção da NATO naquele país. E desvaneceram-se agora completamente com o caso da Síria.

Todos sabemos o que se passou na Líbia. E todos sabemos que em nenhum país da famigerada “Primavera Árabe” a violência terminou e os respectivos povos gozam agora de liberdade, de democracia e de pão para a boca. As ditaduras existentes nos países em apreço foram sistematicamente substituídas por ditaduras militares directamente controladas pela CIA -  a mesma CIA que terá certamente fomentado, minuciosamente, a “indignação” verificada em tais países. Significativamente, aliás, não se registaram tumultos nem “indignações” na Arábia Saudita ou no Bahreim, por exemplo, países com ditaduras medievais, mas aliados dos EUA…

Neste momento, aliás, é já público que milícias estrangeiras, nomeadamente líbias, estão a actuar na Síria contra o regime de Assad.

 

A manobra

 

Fora isto - que já não é pouco -, eis que os EUA levaram a questão Síria ao Conselho de Segurança da ONU, tentando fazer aprovar uma resolução semelhante à que haviam aprovado contra a Líbia o ano passado. China e Rússia vetaram (por ora?) a resolução. Mas a secretária de Estado Hillary Clinton veio já propor, sem hesitações, a criação de uma coligação de países que, sob a direcção do imperialismo norte-americano e servindo-se da NATO, façam na Síria o mesmo que fizeram na Líbia.

Creio que estamos em presença de uma manobra orquestrada pelo imperialismo ianque contra os governos hostis ou não inteiramente controláveis, com vista ao domínio da zona e à preparação político-militar do ataque ao Irão e, de passagem, à liquidação da justa luta do povo palestiniano.

Porém, uma aventura militar na Síria ou no Irão, à semelhança do que aconteceu na última invasão do Iraque, terá consequências muito sérias para os países agressores, como também as teve no Iraque, que terminou com uma monumental derrota político-militar do imperialismo ianque e seus lacaios.

Por cá, os “patriotas” do costume, com Passos Coelho e Paulo Portas à cabeça, têm apelado à intervenção na Síria, atirando mais uma vez para o lixo o Artº. 7º. da nossa Constituição, que estipula o princípio da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados.

 

A luta

 

Tão ou mais grave tem sido a posição assumida sobre estes assuntos pelo PCP, o BE e o PS, onde vária gente chegou a comparar a “Primavera Árabe” ao 25 de Abril em Portugal… Pois é!...

Devemos denunciar e combater as manobras do imperialismo e exigir a saída imediata de Portugal da NATO, organização que mais uma vez se prepara para ser o instrumento político-militar de uma agressão.

O imperialismo é a guerra, mas, unidos, os povos do mundo podem derrotar o imperialismo norte-americano, o qual se encontra cada vez mais isolado.

Estarei errado?

 

(PS – Convirá ter presente que a Síria, para além de ter saída para o Mar Mediterrâneo (zona do país onde a Rússia dispõe de uma base naval), tem ainda fronteiras com o Líbano, Israel, Turquia, Iraque e Jordânia)

 

publicado por flordocardo às 00:39

11
Fev 12

 

*   *   *

 

A Inevitabilidade das Revoluções

 

«As revoluções não são factos que se aplaudam ou que se condenem. Havia nisso o mesmo absurdo que em aplaudir ou condenar as evoluções do Sol. São factos fatais. Têm de vir. De cada vez que vêm é sinal de que o homem vai alcançar mais uma liberdade, mais um direito, mais uma felicidade. Decerto que os horrores da revolução são medonhos, decerto que tudo o que é vital nas sociedades, a família, o trabalho, a educação, sofrem dolorosamente com a passagem dessa trovoada humana. Mas as misérias que se sofrem com as opressões, com os maus regímens, com as tiranias, são maiores ainda. As mulheres assassinadas no estado de prenhez e esmagadas com pedras, quando foi da revolução de 93, é uma coisa horrível; mas as mulheres, as crianças, os velhos morrendo de frio e de fome, aos milhares nas ruas, nos Invernos de 80 a 86, por culpa do Estado, e dos tributos e das finanças perdidas, e da fome e da morte da agricultura, é pior ainda. As desgraças das revoluções são dolorosas fatalidades, as desgraças dos maus governos são dolorosas infâmias.»

 

Eça de Queirós, in «Distrito de Évora»

publicado por flordocardo às 16:25
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10
Fev 12

 

*   *

 

Circula na internet, desde o passado dia 8, o Manifesto dos Cem Mil, documento dirigido aos operários da construção civil e obras públicas.

Pela sua importância, não apenas para estes trabalhadores, mas para todos os trabalhadores que com eles estarão solidários e unidos na mesma luta, aqui o divulgo. 

   

 

Aos Operários da Construção Civil e Obras Públicas!

 

Camaradas!

 

O presidente da Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas (FEPICOP), que dá pelo nome de Ricardo António Pedrosa Gomes, acaba de remeter a Passos Coelho, chefe do governo de traição nacional PSD/CDS, uma carta em que lhe pede que a actividade seja declarada como sector em reestruturação, para o fim de poder beneficiar de um estatuto legal que permite despedir este ano, de imediato, sem demoras escusadas e sem custos, um total de 100.000 (cem mil) trabalhadores, a juntar aos 200.000 (duzentos mil) já despedidos nos últimos dois anos.

 

O patronato e o governo preparam-se, pois, para liquidar, até começos de 2013, cerca de 70% de todos os postos de trabalho da indústria portuguesa de construção civil e obras públicas.

 

Vão, assim, ser decretadas a morte do nosso sector e a fome generalizada que afectará mais de um milhão de pessoas, contando os trabalhadores já despedidos e a despedir, com as respectivas famílias, precisamente numa ocasião em que, com o apoio dos traidores da direcção da UGT de João Proença, foram cortados os montantes mensais e globais dos subsídios de desemprego e aumentados todos os preços dos bens essenciais, desde a comida aos medicamentos e dos transportes públicos aos hospitais.

 

Aquilo que está em preparação, nas costas dos trabalhadores da construção civil e obras públicas, é um verdadeiro cataclismo do sector, com uma vaga de desemprego e de miséria nunca vistos.

 

Esta política reaccionária de autêntico terrorismo de Estado e do patronato é a mesma política terrorista que o governo tem tentado aplicar aos operários e trabalhadores do sector dos transportes públicos e que tem merecido destes nossos camaradas um combate intransigente e implacável, com greves duras e sucessivas, sem cedências de qualquer espécie.

 

Para pagar uma dívida pública que nenhum de nós contraiu, não autorizou, nem dela beneficiou, o governo paralisa, um após outro, todos os sectores da actividade industrial do país, conduzindo a nação e o povo para a maior pobreza e a maior miséria de todos os tempos.

 

Pretende o governo e o patronato despedir-nos sem justa causa, e não apenas despedir-nos, mas também despedir-nos sem pagar qualquer indemnização pelo despedimento nem subsídio de desemprego, e deixando-nos a morrer, com as nossas mulheres e os nossos filhos, num canto da rua como se fôssemos animais.

 

E tudo isto numa altura em que nos cortou todos os subsídios a que tínhamos direito, consequentes dos descontos efectuados durante anos sobre os nossos salários, e numa ocasião em que aprovou uma nova lei do arrendamento urbano que permite ao senhorio fixar a renda que entender e despejar-nos quando lhe aprouver.

 

Camaradas!

 

Nós somos cem mil, os trabalhadores que o governo de traição nacional PSD/CDS pretende, mancomunado com os patrões (Mota Engil, Teixeira Duarte, etc), despedir, sem respeito por qualquer dos direitos entretanto adquiridos com o suor do nosso rosto.

 

Nós somos uma grande força e temos muita força! Não nos deixamos intimidar

 

Organizemo-nos empresa a empresa, estaleiro a estaleiro, local a local de trabalho, e preparemos a luta contra este terrorismo do Estado e do patronato.

 

Se o sector precisa de reestruturação, então digamos com todas as letras e exijamos com clareza a única reestruturação verdadeiramente consequente: a nacionalização das grandes empresas do sector, colocando-as sob a direcção dos próprios trabalhadores. Nós saberemos gerir o sector em nome dos nossos interesses e do interesse do povo português.

 

Unamo-nos aos nossos irmãos de classe dos outros sectores de actividade que o governo também pretende liquidar, sob a capa da reestruturação.

 

Derrubemos o governo de traição nacional PSD/CDS e convoquemos as forças democráticas de esquerda a constituírem, com o apoio dos operários, camponeses, trabalhadores e jovens, um governo democrático e patriótico.

 

Exijamos aos nossos sindicatos que preparem e convoquem, desde já, a greve geral do sector da construção civil e obras públicas, como resposta à política terrorista dos despedimentos em massa, que está em preparação pelo patronato e pelo governo.

Se os sindicatos existentes não cumprirem esta tarefa, deverá então constituir-se imediatamente um novo sindicato dos operários da construção civil e obras públicas, independente, coeso, unido e forte, para organizar a greve geral do sector.

 

Ergamo-nos contra o roubo do nosso trabalho, dos nossos salários e dos nossos subsídios pelo patronato e pelo governo!

 

Os operários da construção civil e obras públicas vencerão!

                                                                                                                                                                                                                                                 Os Cem Mil

publicado por flordocardo às 17:57

09
Fev 12

publicado por flordocardo às 17:39
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05
Fev 12

 

            *   *   *

 

«Quem cala a verdade, ouro enterra.»

 

 

publicado por flordocardo às 00:24

 

*   *

 

DIGO QUE NÃO SOU UM HOMEM PURO

 

Não vou dizer-te que sou um homem puro.

Entre outras coisas

falta saber se a pureza existe.

Ou se ela é, digamos, necessária.

Ou possível.

Ou se é agradável.

Acaso alguma
vez bebeste água quimicamente pura,

água de laboratório,

sem um grão de terra ou de esterco,

sem o pequeno excremento de um pássaro,

água não mais feita de oxigénio e hidrogénio?

Puf!, que porcaria.

 

Não te digo, pois, que sou um homem puro,

não te digo isso, mas precisamente o contrário.

Que amo (as mulheres, naturalmente,

pois o meu amor pode dizer o seu nome)

e gosto de carne de porco com batatas,

e grão-de-bico e chouriço, e

ovos, frango, carneiro, peru,

peixe e marisco,

e bebo rum e cerveja e aguardente e vinho,

e fornico (mesmo com o estômago cheio).

Sou impuro, que queres que te diga?

Totalmente impuro.

No entanto,

penso que há no mundo muitas coisas puras

que mais não são que pura merda.

Por exemplo, a pureza do nonagenário virgem.

A pureza dos noivos que se masturbam

em vez de
dormirem juntos numa pousada.

A pureza dos internatos, onde

a fauna pederasta

abre as suas flores de sémen provisório.

A pureza dos clérigos.

A pureza dos académicos.

A pureza dos gramáticos.

A pureza dos que afiançam

que é preciso ser puro, puro, puro.

A pureza dos que
nunca tiveram blenorragia.

A pureza da mulher que nunca lambeu uma glande.

A pureza que nunca sugou um clítoris.

A pureza que nunca pariu.

A pureza que nunca gerou.

A pureza do que bate no peito e

diz santo, santo, santo,

quando é um diabo, um diabo, um diabo.

A pureza, enfim,

de quem não chegou a ser suficientemente impuro

para saber o que é a pureza.

 

Ponto final, data e assinatura.

Assim fica escrito.

 

                                                                                       
                                                            Nicolás Guillén (Cuba, 1902-1989)

 

(do livro «Antologia Poética» - Campo das Letras, 1995, tradução de Albano Martins)

 

 

publicado por flordocardo às 00:23
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04
Fev 12

 

*   *   *

 

Vasco Graça Moura, actual presidente do Centro Cultural de Belém, deu instruções aos serviços sob a sua tutela no sentido de não seguirem as normas do Acordo Ortográfico. Esta decisão foi aprovada por unanimidade em reunião do conselho de administração do CCB.

Em conformidade, o site do CCB já foi alvo da decisão agora adoptada.

Os defensores do Acordo Ortográfico entraram em parafuso... Eu, ao contrário, aplaudo!

 

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue!

publicado por flordocardo às 15:57

03
Fev 12

publicado por flordocardo às 21:07
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01
Fev 12

publicado por flordocardo às 15:47
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