06
Mar 12

 

 

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Crítica à Europa
 
Não tinhas nada que ser amada por Zeus     Europa
Agora é o que se vê    Ele foi deitar-se na praia feito touro
Os cornos fingindo luas e tu toca de lhe acariciar o pêlo
E ele vai contigo mar adentro     é o que diz o relatório da cultura
E metem-se de amores em Creta    parece que debaixo
Das ramadas dum plátano e vieram os filhos
Mas o que me interessa é o estado
A que isto chegou minha querida
Os teus bisnetos num desemprego parvo   muitos sem tecto
E perguntando-se por que raio foi ela
Meter-se com o pai dos deuses?
Raptada   nós sabemos   mas mesmo assim   Europa
Em Creta há tantos rapazes porquê Zeus
Que é hoje um banco alemão?

                                                                  Abel Neves (n. 1956)

 

(do livro «Eis o Amor a Fome e a Morte» - Cotovia/1998)

 
publicado por flordocardo às 15:07
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publicado por flordocardo às 14:39
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RECOMENDAÇÃO

 

Mergulha e dissolve essas tensões

que pelas tardes cálidas sobrenadam.

 

Abre valas no tempo e na razão

(a do aturdimento, a do esquecer

as noites de ti próprio) e manuseia

alfaias com todo o desvelo

- transformando em música e palavra

(a voz de ti nascida)

o vasto e árduo esforço de drenagem.

 

Não deixes que as nuvens por demais

te pesem, por demais assombrem

rios e horizontes e arvoredos - como

cancelas postas no ar da paisagem.

                                                                       

                                                                  João Rui de Sousa (n. 1928)

 

(do livro «Quarteto para as próximas chuvas» - Publicações Dom Quixote/2008)

 

publicado por flordocardo às 00:32
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