* * *
TENHO A LÍNGUA ABERTA
Tenho a língua aberta pelo sangue das palavras
as raízes feridas ferozmente
O céu nublado torna a terra lívida
entre os ossos de uma viola indolente
Intensos são porém os ritmos internos
que convergem na boca duramente
O sopro límpido que almejo irreprimível
está nessa língua aberta e ela sente
(Parede, 03.06.2012)
* * *
DUPLA FACE
Há nos teus olhos uma sombra destemida
A evidência resulta indomável
Não recua perante o seu próprio abismo
move-se inquieta para o seu contrário
incendeia a mão e a palavra
salta ágil de fraga em fraga
tropeça levanta-se logo se levanta
recua respira recomeça agiganta-se
As cerejeiras estão carregadas de frutos
e eu diria que há nos teus olhos uma sombra
destemida
(Parede, 03.06.2012)