20
Jun 12

 

*   *   *

 

Um poema belíssimo e extraordinariamente instrutivo - que agora voltou

a aparecer-me entre as mãos e os olhos.

 
*
 
OS TAPECEIROS DE KUJAN-BULAK HOMENAGEIAM LÉNINE

1
Muitas vezes foi homenageado e abundantemente
O camarada Lénine. Há bustos e estátuas.
Deram o seu nome a cidades e a crianças.
Fazem-se discursos em variadas línguas
Há reuniões e manifestações
De Changai a Chicago, em homenagem a Lénine.
Mas os tapeceiros de Kujan-Bulak
... Pequena localidade no sul do Turquestão
Homenagearam-no assim:
Vinte tapeceiros levantam-se à noite
A tremer de febre do tear pobre.
Anda por ali a febre: a estação dos comboios
Está cheia de zumbido dos mosquitos, espessa nuvem
Que se ergue do pântano atrás do velho cemitério dos camelos.
Mas o caminho-de-ferro,
Que de quinze em quinze dias traz água e fumo, traz
Um dia também a notícia
De que está próximo o dia da homenagem ao camarada Lénine.
E a gente de Kujan-Bulak,
Gente pobre, tapeceiros, decide
Que ao camarada Lénine também na sua localidade
Seja levantado um busto de gesso.
Mas quando se recolhe o dinheiro para o busto
Estão todos agitados pela febre e pagam
Os seus copeques penosamente ganhos com mãos que esvoaçam.
E o guarda vermelho Stepa Gamalev, o qual
Conta com cuidado e tudo observa,
Vê a prontidão para homenagear Lénine, e alegra-se
Mas vê também as mãos inseguras.
E faz de repente a proposta
Que comprem petróleo com o dinheiro para o busto e
O deitem no pântano atrás do cemitério dos camelos
Donde vêm os mosquitos
Que geram a febre.
Portanto, que combatam a febre em Kujan-Bulak, e de facto
Em homenagem ao falecido, mas
Inesquecível
Camarada Lénine.

Assim o decidiram. No dia da homenagem levaram
Os seus baldes amolgados, cheios do petróleo negro
Uns atrás dos outros
E com ele regaram o pântano.

Assim se valeram a si mesmos homenageando Lénine.
E homenagearam-no valendo-se a si mesmos, e tinham-no
Portanto compreendido.

2
Ouvimos como a gente de Kujan-Bulak
Homenageou Lenine. Ora quando à noite
O petróleo estava comprado e despejado sobre o pântano,
Levantou-se um homem na reunião e pediu
Que se colocasse uma placa na estação de comboios
Com o relato deste acontecimento, contendo
Também exactamente a mudança de planos e a troca
Do busto de Lénine pelo barril de petróleo.
E tudo isto em homenagem a Lénine.
E também isto eles fizeram
E puseram a placa

                               Bertolt Brecht (1898-1956)

(extraído do livro «Poesia da R.D.A. - breve antologia» - organização, selecção, tradução e notas de Rainer Bettermann e Álvaro Pina, Livros Horizonte, 1980)
 
publicado por flordocardo às 12:33
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