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(Entre as árvores e o mar)
Entre as árvores e o mar
uma espécie de orvalho
em ramos que não cessam de tremer
Mãos abertas
molhadas
Mãos que nenhum ouro não pode cobrir
(Parede, 26.10.2012)
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(Entre as árvores e o mar)
Entre as árvores e o mar
uma espécie de orvalho
em ramos que não cessam de tremer
Mãos abertas
molhadas
Mãos que nenhum ouro não pode cobrir
(Parede, 26.10.2012)
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REFUNDAR...
Também existe o...
REBATER
REMALHAR
REFUNDIR
REFODER...
(Não perdes pela demora, ó Passos!)
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A editora Tinta-da-China vai lançar em 2013 uma edição portuguesa da revista literária britânica Granta, dirigida pelo jornalista Carlos Vaz Marques e com periodicidade semestral. O primeiro número que deverá sair em Maio.
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(Num ponto qualquer)
Num ponto qualquer
sensualmente subtil
algo que antes não servia para nada
irradia agora habitada surpresa.
António Ramos Rosa (n. 1924)
(do livro «António Ramos Rosa - Antologia Poética» - Publicações Dom Quixote, Lisboa/2001)
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Há por aí uns quantos marmanjos da política burguesa que apreciam e louvam o silêncio do Presidente da República na presente situação, pois consideram que Cavaco deve estar, digamos assim, fora da crise - liberto para poder intervir em caso de extrema necessidade…
Tal ponto de vista constitui uma tolice (e uma armadilha) de todo o tamanho. Primeiro, porque a crise existe e é gravíssima. Segundo, porque Cavaco não é parte da solução de tal crise, mas sim parte integrante do problema que a mesma constitui para o povo.
O silêncio de Cavaco constitui uma manifestação clara de apoio ao governo Coelho/Portas. O resto são cantigas!
Completamente isolado e falido perante o povo, o governo Coelho/Portas só se mantém no poder graças ao apoio de Cavaco.
Sucede que Cavaco, homem de duas caras, finge ter dúvidas ou mesmo estar contra a proposta de OE para 2013, colocando outros falarem por ele (Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira, etc.), enquanto nos bastidores vai apoiando a política de traição nacional do governo.
Na verdade, se o governo é hoje Vítor Gaspar - o homem-de-mão da troika -, ele é também Cavaco Silva…
Posto isto, se Cavaco não demite o governo, então temos que assumir que Cavaco deve demitir-se quanto antes. Julgo que será bom que a preparação da greve geral do próximo dia 14 de Novembro tenha isto bem presente.
Cavaco e governo são uma e a mesma coisa!
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Foi neste último domingo, na minha querida Sociedade Musical União Paredense.
Quase 200 pessoas estiveram presentes para assistirem a mais um excelente concerto da Banda da SMUP.
Força!
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Se há coisa que Sampaio não consegue é estar calado, sobretudo quando toda a gente fala e, para mais, se tudo fala ao mesmo tempo, como sucede nos dias que correm. Foi jeito que lhe ficou das RIAs, reuniões inter-associações académicas dos seus tempos de estudante universitário, nos longínquos e saudosos anos sessenta.
Nessa época, o Cenoura, quando estava tudo à pêra numa discussão ultra-frenética, intervinha para propor um consenso alargado, com o qual consenso pretendia muitas vezes unir o Cabo da Roca ao Cabo Espichel, ou seja, a esquerda e a direita numa única plataforma de entendimento. Claro está que também nessa época Sampaio nunca teve grande sucesso.
Hoje, vivemos também em Portugal uma situação política explosiva, para a qual muito contribuiu o magistério do próprio Sampaio, nos dois mandatos que cumpriu numa década em Belém, como presidente da república.
Sábado passado, Sampaio veio à Sic-Notícias, onde lhe facultaram uma longuíssima entrevista, para que o homem conseguisse dar vazão ao seu incontrolado desejo de falar, quando todos falam e falam ao mesmo tempo, sobre o genocídio fiscal do governo PSD/CDS e a queda mais ou menos iminente desse executivo de traição nacional.
Diga-se, em abono da verdade, que, na primeira parte da entrevista, Sampaio fez ao governo Coelho/Portas e à política imposta pela Tróica um dos mais violentos ataques que alguém até hoje lhes fez nos órgãos de comunicação social controlados pelos capitalistas, pelo que, nessa parte, cumpre-nos tirar o chapéu.
Nunca ninguém no PS – nem Soares! -, fez um ataque tão violento como o que fez Sampaio à política de austeridade do governo PSD/CDS. Deixo-vos aqui, mais na esperança de que isso possa servir de exemplo a Seguro, se ele nos lesse, do que de reflexão aos meus dilectos leitores, duas das catilinárias do segundo civil que foi presidente da República Portuguesa:
“Já toda a gente percebeu que isto não dá tempo possível, que a austeridade rebenta com o País, rebenta com os portugueses, rebenta com a sua esperança e rebenta com os direitos e pode rebentar com a própria democracia, e isso temos de evitar”
E, continuando, disse mais o ex-Chefe do Estado.
“O desafio actual – e digo-o com toda a veemência – é perceber que as pessoas também já perceberam que só desta maneira não se vai lá e têm de ser mobilizadas, sob pena de uma explosão social incontrolável”
Depois de tanta justíssima indignação e de tão justificada veemência, os telespectadores ficaram todos empolgados à espera, impacientes, da solução do último dos presidentes que usou da chamada bomba atómica presidencial, demitindo o governo Santana Lopes e dissolvendo o parlamento, e de cujas subsequentes eleições legislativas resultou o primeiro governo de Sócrates, o governo que está na base de toda a crise actual.
Que teria Sampaio para nos dizer, a todos nós portugueses?
Depois destas jaculatórias de esquerda, aparece, a preencher toda a pantalha da Sic-Notícias, não Sampaio, não o penúltimo presidente da república no activo, mas o velho Cenoura dos anos sessenta, o tal que se especializou na impossível tarefa de unir o Cabo da Roca e o Cabo Espichel, a propor-nos – o quê? adivinhem lá!, exactamente isso... – um Consenso Alargado.
E um consenso alargado, entre quem? Não obviamente entre a esquerda e a direita – o Cenoura progrediu alguma coisa, entretanto!... – não um consenso de esquerda, não um consenso democrático e patriótico, mas um consenso alargado só entre todos os partidos da direita portuguesa ou, vá lá, do centro direita, se se quiser: o PS, o PSD e o CDS.
Sampaio entende – conforme afirmou na televisão naquela noite tão longa – que, se continuar assim, o governo Coelho/Portas poderia vir a cair: “o executivo pode vir a cair se continuarmos assim; é inevitável”.
E então, para que a tragédia da queda do governo PSD/CDS não aconteça, o velho Cenoura explica como faria, se estivesse hoje sentado em Belém, no lugar do incompetente Cavaco:
“Chamava um de cada vez e, depois, os três ao mesmo tempo, - note-se bem estas subtilezas! – - os representantes do PS, do PSD e do CDS, uma vez que infelizmente já se percebeu que o BE e o PCP estão fora deste esquema, e dizia-lhes: ‘meus senhores, ordem nisto, isto não é possível fazer assim”.
E então o velho Cenoura, saído da noite dos tempos, imporia a formação de um governo de consenso alargado: o governo PS/PSD/CDS, ou por eles apoiado.
Isto é, um governo tanto ou mais à direita do que o governo que já está em vias de ser deitado abaixo pelo poderoso movimento popular de massas... Um governo contra o Povo e contra o País. Um governo contra a esquerda. Um governo servo do Fuhrer Ângela Merkl. Um governo de consenso alargado para pagar disciplinadamente a dívida pública aos bancos germânicos.
Porque não te calas, Cenoura?!
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Vai