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Nov 12

 

 

publicado por flordocardo às 15:54
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Atividades e espetáculos para todos os Gostos e feitios participem!!
publicado por flordocardo às 15:17
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UMA TOUPEIRA NA CALÇADA

 

 

Vi uma toupeira na calçada.

 

As toupeiras não se dão bem em calçadas
- elas que têm no solo arável o seu habitat -
mas aquelas estava ali inexplicavelmente.

 

Uma aventura que acabou mal,
pensei para comigo.

 

A toupeira extraviada na calçada
esbracejava (se assim se pode dizer)
como um náufrago que não tem bóia nem tábua.

 

Tentava refugiar-se na terra
a que pertencia. Mas, desfavorável,
a pedra não se deixava fender das suas unhas,
tal como a água se não deixa nadar
do desespero do náufrago
que não tem tábua nem bóia.

 

Estava-se mesmo a ver como a coisa ia acabar.

 

Enquanto tivesse forças, a toupeira,
embora perplexa daquele lugar hostil,
continuaria sempre a esbracejar,
arranhando em vão a pedra da calçada.
Depois, algum gato havia de passar por ali
(há sempre um gato que passa ‘por ali’)
e daria o remate apropriado
a esta história sem história.
No fim de contas, uma toupeira é um rato,
não é verdade? (Pergunta o gato.)

 

Meditando na sorte da toupeira,
enquanto o gato ainda anda por longe,
ocorreu-me então que a calçada
podia muito bem ser um espelho
e a toupeira naufragada
a nossa imagem reflectida nele.

 

Toupeira em calçada todos nós.

 

 

                                    A. M. Pires Cabral (n. 1941)

 

(do livro «Cobra-d'Água» - Cotovia, 2011)

 

publicado por flordocardo às 15:14
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