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A última vez (foi ontem) que eu vi Coelho...
Ou seria Gaspar?... Ou seria Cavaco?...
Terá sido um sonho?...
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A última vez (foi ontem) que eu vi Coelho...
Ou seria Gaspar?... Ou seria Cavaco?...
Terá sido um sonho?...
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UMA TOUPEIRA NA CALÇADA
Vi uma toupeira na calçada.
As toupeiras não se dão bem em calçadas
- elas que têm no solo arável o seu habitat -
mas aquelas estava ali inexplicavelmente.
Uma aventura que acabou mal,
pensei para comigo.
A toupeira extraviada na calçada
esbracejava (se assim se pode dizer)
como um náufrago que não tem bóia nem tábua.
Tentava refugiar-se na terra
a que pertencia. Mas, desfavorável,
a pedra não se deixava fender das suas unhas,
tal como a água se não deixa nadar
do desespero do náufrago
que não tem tábua nem bóia.
Estava-se mesmo a ver como a coisa ia acabar.
Enquanto tivesse forças, a toupeira,
embora perplexa daquele lugar hostil,
continuaria sempre a esbracejar,
arranhando em vão a pedra da calçada.
Depois, algum gato havia de passar por ali
(há sempre um gato que passa ‘por ali’)
e daria o remate apropriado
a esta história sem história.
No fim de contas, uma toupeira é um rato,
não é verdade? (Pergunta o gato.)
Meditando na sorte da toupeira,
enquanto o gato ainda anda por longe,
ocorreu-me então que a calçada
podia muito bem ser um espelho
e a toupeira naufragada
a nossa imagem reflectida nele.
Toupeira em calçada todos nós.
A. M. Pires Cabral (n. 1941)
(do livro «Cobra-d'Água» - Cotovia, 2011)
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Permitam-me uma pergunta ingénua: para que é que esta gentalha anda à procura, à cata (e preocupadíssima!), de mais fundos comunitários?
Será mesmo para a agricultura, o mar e a indústria?...
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