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O sr. François Hollande sempre inspirou grande confiança e ânimo ao nosso Tó Zé Seguro (e não só). Convenhamos que o caso não era para menos, uma vez que o sr. Hollande, mesmo antes de ser eleito Presidente da França, prometia enfrentar o primarismo autoritário e mesmo reaccionário da chancelarina Merkel e seus mentores.
As coisas começaram a correr menos bem ao sr. Hollande mal ele chegou ao Eliseu. O Presidente francês, com efeito, deslocou-se à Alemanha assim que tomou posse; mas só saiu de lá com uma vaga e esfarrapada promessa: ia-se tentar descobrir uma política de aposta no “crescimento da economia europeia” que, de alguma forma, contrabalançasse a austeridade…
Passadas umas largas semanas sobre a visita a Berlim, eis que as coisas correm, agora, definitivamente para o torto ao Presidente da França... Com efeito, na semana passada o sr. Hollande comunicou aos franceses que vão ter que poupar 50 mil milhões de euros no espaço de 5 anos e que os custos do trabalho em França vão ter que diminuir em 20 mil milhões de euros por causa da “competitividade”.
O sr. Hollande, portanto, está hoje rendido ao “rigor” e à “austeridade”, tendo fechado o “crescimento” num dos armários do seu gabinete no Eliseu. O Presidente francês - que alguns saloios diziam transportar em si uma “alternativa” - rendeu-se a essa coisa, susceptível de todos os milagres e mais um, a que se convencionou chamar “pragmatismo”.
Ora eu estou em crer que a seguir à inversão do sr. Hollande há-de vir aí a inversão do seguidista Tó Zé Seguro e seus mentores. Não se esqueçam que Seguro está em plena campanha eleitoral, digamos assim. Mas bastará dar um tempo ao tempo - caso nós, povo, lhes demos tempo, algo que não convém nada, como é evidente - para assistirmos à inevitável inversão.
De facto, dar tempo a esta gente, quer ainda ao governo de vendidos de Coelho/Portas, será cometer suicídio. Não concordam?
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(Assim serão teus olhos)
Assim serão teus olhos…
Como romãs ao sol-pôr
Talvez amanhã eu parta
para o esplendor do silêncio
(Parede, 11-18.11.2012)
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«E vós que seguiste o seu exemplo e decidiste que felicidade é liberdade
e liberdade é coragem, não hesiteis
perante os perigos da guerra.»
Péricles
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VIVA A GREVE GERAL!
Que ninguém fique de fora!
Vamos parar o país no dia 14 de Novembro!
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A chancelarina lá se foi.
Na véspera da sua visita a Portugal, Merkel fez questão de publicamente afirmar que não via qualquer necessidade de Portugal vir a renegociar o "memorando". Desta forma, a chancelarina marcou politicamente, à partida, a sua visita ao nosso país. E Passos Coelho e restante camarilha aceitaram a marca, com lacre e tudo. Mas seria de esperar outra coisa? Claro que não!
Portanto, nada de novo no horizonte. Nada, excepto uma coisa: os empresários e banqueiros alemães presentes no CCB fizeram questão de elogiar a mão-de-obra boa e barata existente em Portugal, prometendo mesmo novos investimentos.
Assim se compreende por inteiro o que Coelho e Portas andam a fazer por cá, não é verdade?! E também deve ser por isto que o ministro da economia se lembrou há dias de falar na necessidade de reindustrializar o país...
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Ode à Mentira
Crueldades, prisões, perseguições, injustiças,
como sereis cruéis, como sereis injustas?
Quem torturais, quem perseguis,
quem esmagais vilmente em ferros que inventais,
apenas sendo vosso gemeria as dores
que ansiosamente ao vosso medo lembram
e ao vosso coração cardíaco constrangem.
Quem de vós morre, quem de por vós a vida
lhe vai sendo sugada a cada canto
dos gestos e palavras, nas esquinas
das ruas e dos montes e dos mares
da terra que marcais, matriculais, comprais,
vendeis, hipotecais, regais a sangue,
esses e os outros, que, de olhar à escuta
e de sorriso amargurado à beira de saber-vos,
vos contemplam como coisas óbvias,
fatais a vós que não a quem matais,
esses e os outros todos... - como sereis cruéis,
como sereis injustas, como sereis tão falsas?
Ferocidade, falsidade, injúria
são tudo quanto tendes, porque ainda é nosso
o coração que apavorado em vós soluça
a raiva ansiosa de esmagar as pedras
dessa encosta abrupta que desceis.
Ao fundo, a vida vos espera. Descereis ao fundo.
Hoje, amanhã, há séculos, daqui a séculos?
Descereis, descereis sempre, descereis.
Jorge de Sena (1919-1978)
(do livro «Pedra Filosofal»)
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Foto: Paula Trindade - Mercado Aberto de Sandomil