* * *
«Para quem tem uma boa posição social, falar de comida é coisa baixa.
É compreensível: eles já comeram.»
Bertold Brecht
* * *
«Para quem tem uma boa posição social, falar de comida é coisa baixa.
É compreensível: eles já comeram.»
Bertold Brecht
* * *
* * *
Nos últimos dias, os três "pastorinhos" foram a Belém. Primeiro Portas, depois Passos, por último Tó Zé Seguro.
Depois, o "Papa" Cavaco resolveu falar, no decurso de uma cerimónia de inauguração de um hotel de luxo. Disse que não se deixaria influenciar por «palpites»... E que prefere «o trabalho»...
Hum...
Não sei. Não sei se, face a este silêncio agora quebrado por Cavaco, estamos em presença de uma comédia burlesca se de um filme de terror.
* * *
A VILA DE ALVITO
A vila de Alvito
tem ruas e praças,
homens e mulheres
e muitas desgraças.
A vila de Alvito
tem dois lavradores.
Tem muita riqueza
e raros amores.
A vila de Alvito
tem uma cruz ao lado
- Quem manda na vila
não lhe dá cuidado.
Malteses, ganhões,
sangue misturado.
Na vila de Alvito
é que eu fui criado.
Raul de Carvalho (1920-1984)
* * *
A princípio eu pensei que tinha percebido mal; que ouvira Arménio Carlos, junto à Assembleia da República, afirmar que «queremos pagar a dívida».
Mas, afinal, era mesmo real a afirmação do dirigente máximo da CGTP. Instantes depois ainda pensei estar em presença de um qualquer fenónemo paranormal. Ilusão minha, de novo...
«Queremos pagar a dívida», disse ele. Mas qual dívida? E quanto se deve e quem deve a quem? A quem serve a dívida? Quem a está a pagar com língua de palmo? E quem mandatou Arménio para proferir uma tal afirmação - uma afirmação inteiramente ao arrepio do querer e do sentir do vigoroso movimento operário e popular que se manifesta por todo o país contra a política do capital?
Arménio está "a Leste do Paraíso". E, desta forma, está objectivamente a querer sabotar a Greve Geral marcada para 14 de Novembro.
Por este andar, acho que, em breve, Arménio de juntará, na prática, ao banqueiro Ulrich e ao cardeal Policarpo... Não será nada de paranormal, garanto-vos.
Mas, sr. Arménio, oiça bem: NÃO PAGAMOS!!!
TODOS À GREVE GERAL DE 14 DE NOVEMBRO!
* * *
(De amor nada mais resta que um Outubro)
De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.
E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.
Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.
Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.
Natália Correia (1923-1993)