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Jan 13

 

 

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UM POEMA

 
Hei-de ser tudo o que eles querem:
a raiva é toda de eu não ser um espelho
em que mirem com gosto os próprios cornos,
as caudas com lacinhos, e os bigodes
de chibos capripédicos.
Não sou sequer imagem.
Mas voz eu sou
que como agulha ou lança ou faca ou espada
mesmo que não dissesse da miséria
de lodo e trampa em que se espojam vis
só porque existe é como uma denúncia.

Hei-de ser tudo, não o sendo. Um dia
- podres na terra ou nos caixões de chumbo
estes zelosos treponemas lusos -
uma outra gente, e limpa, julgará
desta vergonha inominável que é
ter de existir num tempo de canalhas
de umbigo preso à podridão de impérios
e à lei de mendigar favor dos grandes.

                                              Jorge de Sena (1919-1978)

(do livro «Visão Perpétua» - Edições 70)
 
publicado por flordocardo às 19:14
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