* * *
POEMA
silenciosamente aproximo-me do poema
circundo-o duma palavra faço nela
uma incisão deliberada
e exponho a ferida ao ar sem protegê-la
para que infecte e frutifique
de resina ainda com gosto a papel húmido
o poema cresce ramifica-se
comovidamente do cerne para a casca
inteiro liso adstringente sinuoso
mas
todo o poema é perfeitamente impuro
Vasco Graça Moura (n. 1942)
(do livro «Poesia Reunida - vol. 1 - 1962-1997» - Quetzal Editores, Outubro/2012)