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O homem morreu no passado dia 27 de Janeiro, mas os encómios sobre o mesmo continuaram a ouvir-se ao longo de vários dias. Os últimos desses encómios pude lê-los ontem, no semanário «Expresso» do senhor Balsemão. Falo, é claro, do major-general Jaime Neves.
Ora eu acho que sobre o homem, por muitos tratado como “herói”, nomeadamente do 25 de Abril e do 25 de Novembro, importa dizer o que não se disse ainda. Só então, modéstia à parte, eu acho que se pode deixar assentar definitivamente o pó sobre o defunto.
Oficial do Regimento de Comandos, Jaime Neves fez 5 comissões (cinco!) no então chamado «ultramar». Distinguiu-se em Moçambique. Quer dizer: foi um dos mais destacados carniceiros de quantos lutavam pela independência daquela então colónia portuguesa ou apoiavam tal luta.
Envolvendo-se depois no «movimento dos capitães», no 25 de Abril coube a Jaime Neves tomar a Legião Portuguesa e a sua Sede em Sete Rios, missão que cumpriu, note-se, sem disparar um tiro…
Em 28 de Maio de 1975, Jaime Neves participou no ataque às sedes do MRPP (sob as ordens do COPCON de Otelo Saraiva de Carvalho) e na consequente prisão de mais de 400 militantes e simpatizantes daquele Movimento. Entre esses presos sem culpa formada encontrava-se o autor deste blogue, por sinal.
Depois veio o 25 de Novembro de 1975 e, como se sabe, também nesse contra-golpe o “herói” Neves não disparou um tiro…
Nos anos oitenta, mais ou menos reformado das lides militares, Jaime Neves dedicou-se à «segurança privada» e a uns biscates fora das horas de serviço, e como capanga do banqueiro Jorge de Brito, bateu um dia violentamente à porta da Sede Regional do PCTP/MRPP, ali na Travessa André Valente, em Lisboa, ameaçando de despejo quem lá estava para recuperar o que justamente havia sido expropriado ao dito banqueiro. Por sinal, eu também me encontrava por lá nesse dia…
Em 1995, o “herói” é condecorado com a ordem de Torre e Espada por... Mário Soares… Até que, em 2009, Cavaco Silva (claro!) promove o nosso “herói” a major-general…
Como se pode ver, os torcionários não tiveram só emprego e reconhecimento público em sinistras organizações policiais como a Polícia de Viação e Trânsito (PVT), a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) ou a Direcção-Geral de Segurança (DGS). De facto, tiveram igualmente emprego e reconhecimento no Exército, nomeadamente por intermédio de “insuspeitos democratas”.
E pronto. Que o pó assente sobre o defunto “tigre”!