11
Fev 13

 

 

*   *   * 

 

PORQUE O FIM DE UM CAMINHO...

 

Porque o fim de um caminho sempre me entregou

o limiar de outro caminho,

o verde de um campo ou de um corpo adolescente,

espero que regresse à minha voz

a luz que no primeiro dia a fecundou

e a terra que é contorno dessa luz.

 

Porque espero ver crescer minhas mãos dessa terra

e de minhas mãos a água necessária à minha sede,

ergo de mim a noite residual do que vivi

e canto,

canto provocando a madrugada.

 

Porque outros entoarão meu requiem e outros cerrarão

minhas pálpebras para defender meus olhos de suas lágrimas,

deixo essa glória aos outros 

- e exalto o meu nascimento

e cada dia em que renasço e procuro

a boca ou o fruto onde se reflitam os meus lábios.

 

Porque, harmonizando-se no sangue o fogo e a água,

eu sou o fogo e a água:

por mim os cadáveres e quanto é feito da matéria dos cadáveres

libertar-se-ão em chamas, serão claridade

e chegarão a pão pela dádiva das cinzas,

a última dádiva, a total.

 

                                                           José Bento (n. 1932)

publicado por flordocardo às 00:16
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10
Fev 13

publicado por flordocardo às 03:20
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*   *   *

 

«Quando o coração pode falar, não há necessidade

de preparar o discurso.»

 

                                                         Gotthold Lessing 

publicado por flordocardo às 01:44
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09
Fev 13

 

*   *

 

 

publicado por flordocardo às 11:57
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 *   *   *

 

MÁTRIA

 

Puxada pela cabeça, no reverso do

que tínhamos ensaiado, costuras

raspadas e cerzidas, na tentativa de

expelir um país em chamas onde o

Tecnocrata ternamente rege, ruge e cospe.


Pela clareira púrpura, os mesmos escrevem as

mesmas palavras nos mesmos jornais. Pátria,

puta hipócrita, porque falas de mim pelas costas?

Comprei o bilhete de regresso por engano.

 

 

                                               Susana Araújo

 

(do livro «Dívida Soberana» - Mariposa Azual, 2012)

 

publicado por flordocardo às 01:23
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08
Fev 13

 

*   *   *

 

Stent colocado ontem, com sucesso. De tal forma que já estou em casa.

Uff!

 

Espero agora que não se registem complicações.

publicado por flordocardo às 18:42
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06
Fev 13

 

 

*   *   *


NESTA FRIA NOITE DE CÉU LIMPO

(poema em “caixa baixa”)

 

gostava de ter comigo um termómetro

um relógio qualquer

uma máquina fotográfica

para medir o frio desta noite fria

e suas hastes de luz

 

apenas sei de um homem que vagueia pela noite

meio curvado com sapatos e sem meias

de outro que fala sozinho

e adormece agarrado a um livro velho

e de outro ainda a quem arranjaram casa

e lança garrafas vazias pela janela

 

que vivo e morro e vivo morrerei

e que ainda assim a erva cresce sob as estrelas

sob o manto solene da noite silenciosa

e da lua que não vejo por agora

eis o que sei também

 

daqui a nada virá o varredor

pelo menos à rua principal

desafiando sem alarido o termómetro e o relógio

fotografando beatas e talões com o olhar

duvidando se faz parte do estado social

e se tem pernas e braços para tanto ordenado ao fim do mês

enquanto as horas humedecem a roupa e os ossos

e os ulriches dormem ainda e sempre

com a pistola debaixo da almofada

 

vou deitar-me

tenho que me deitar para medir com os ossos o frio

o frio desta noite fria

ilusoriamente imóvel

 

Mais logo o dia estará claro

provavelmente cheio de um radiante sol de inverno

e os jornais falarão de crise

de recuperação de mercados de mourinhos

de torrenciais paixões de deslealdades

de inóspitas traições caseiras

e mais uma noite

esta noite terá passado

 

Sem outdoors nem máscaras

roem-se os nervos e a náusea

e afiam-se facas rombas
versos impuros

nesta fria noite de céu limpo

 

(Parede, 04.02.2013)

 

publicado por flordocardo às 01:02

05
Fev 13

 

*   *   *

 

Finalmente um telefonema, vindo do Hospital de S. José (serviço de urologia). Entro amanhã, colocam-me o stent na quinta-feira e, em princípio, sexta-feira estou em casa.

 

Lá vou eu!

publicado por flordocardo às 17:56
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04
Fev 13

 

*  *  *

 

 

O homem morreu no passado dia 27 de Janeiro, mas os encómios sobre o mesmo continuaram a ouvir-se ao longo de vários dias. Os últimos desses encómios pude lê-los ontem, no semanário «Expresso» do senhor Balsemão. Falo, é claro, do major-general Jaime Neves.

 

Ora eu acho que sobre o homem, por muitos tratado como “herói”, nomeadamente do 25 de Abril e do 25 de Novembro, importa dizer o que não se disse ainda. Só então, modéstia à parte, eu acho que se pode deixar assentar definitivamente o pó sobre o defunto.

 

Oficial do Regimento de Comandos, Jaime Neves fez 5 comissões (cinco!) no então chamado «ultramar». Distinguiu-se em Moçambique. Quer dizer: foi um dos mais destacados carniceiros de quantos lutavam pela independência daquela então colónia portuguesa ou apoiavam tal luta.

 

Envolvendo-se depois no «movimento dos capitães», no 25 de Abril coube a Jaime Neves tomar a Legião Portuguesa e a sua Sede em Sete Rios, missão que cumpriu, note-se, sem disparar um tiro…

 

Em 28 de Maio de 1975, Jaime Neves participou no ataque às sedes do MRPP (sob as ordens do COPCON de Otelo Saraiva de Carvalho) e na consequente prisão de mais de 400 militantes e simpatizantes daquele Movimento. Entre esses presos sem culpa formada encontrava-se o autor deste blogue, por sinal.

 

Depois veio o 25 de Novembro de 1975 e, como se sabe, também nesse contra-golpe o “herói” Neves não disparou um tiro…

 

Nos anos oitenta, mais ou menos reformado das lides militares, Jaime Neves dedicou-se à «segurança privada» e a uns biscates fora das horas de serviço, e como capanga do banqueiro Jorge de Brito, bateu um dia violentamente à porta da Sede Regional do PCTP/MRPP, ali na Travessa André Valente, em Lisboa, ameaçando de despejo quem lá estava para recuperar o que justamente havia sido expropriado ao dito banqueiro. Por sinal, eu também me encontrava por lá nesse dia…

 

Em 1995, o “herói” é condecorado com a ordem de Torre e Espada por... Mário Soares… Até que, em 2009, Cavaco Silva (claro!) promove o nosso “herói” a major-general…

 

Como se pode ver, os torcionários não tiveram só emprego e reconhecimento público em sinistras organizações policiais como a Polícia de Viação e Trânsito (PVT), a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) ou a Direcção-Geral de Segurança (DGS). De facto, tiveram igualmente emprego e reconhecimento no Exército, nomeadamente por intermédio de “insuspeitos democratas”.

 

E pronto. Que o pó assente sobre o defunto “tigre”!

 

publicado por flordocardo às 15:29

02
Fev 13

 

*   *   *

 

Coisas que dizem por aí a toda a hora umas chusmas de saloios encartados...

 

   - workshops

   - coworking

   - default

   - bailout

   - coaching

   - yields

   - governance (e corporate governance)

   

   e etc.

 

Deve ser o mesmo tipo de gente "vanguardista" que anda por aí a dar cabo das «consoantes mudas» e de outras coisas próprias da língua portuguesa... Brrrr!

 

publicado por flordocardo às 10:15

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