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Na madrugada do passado sábado, o chamado eurogrupo debruçou-se sobre o pedido de apoio financeiro cipriota, tendo decidido conceder a Chipre um empréstimo de 10 mil milhões de euros. Exigiu, porém, contrapartidas. Entre elas, a arrecadação imediata, pelas autoridades cipriotas, de uma quantia de 5 mil milhões de euros, através de uma taxa extraordinária sobre os depósitos existentes nos bancos - à laia de garantia financeira do empréstimo.
A chantagem que a referida taxa consubstancia veio a ser aceite pelas autoridades cipriotas: 6,7 por cento sobre os depósitos até 100 mil euros e 9,9 por cento sobre os depósitos superiores aquele valor.
Trata-se de um esbulho, de um verdadeiro saque sem qualquer espécie de precedentes na União Europeia, o qual provocou, de imediato uma enorme revolta e uma intensa corrida aos bancos. As bolsas europeias ressentiram-se e o valor dos juros da dívida pública dos países intervencionados, entre os quais Portugal, subiram rapidamente.
As autoridades cipriotas (que tudo isto fizeram nas costas do povo) tentam agora salvar a face e minimizar o problema: adiaram a discussão parlamentar do assunto de domingo para hoje, e agora de hoje para amanhã; vieram prometer uma outra configuração da taxa, criando um terceiro escalão acima dos 500 mil euros e baixando-a para cerca de metade nos depósitos até 100 mil euros; comprometeram-se ainda a que os valores das taxas venham a ser “reembolsados” aos cidadãos através da conversão dos mesmos em acções sobre a exploração de gás natural do país… Todavia, a convulsão social continua.
Este caso é bem revelador da UE que temos. E elucida-nos, mais do que mil palavras, sobre a sua natureza “democrática”, ou seja, reaccionária. Mais ainda: vem mostrar-nos de uma vez por todas que não há futuro dentro da moeda única - nem para os cipriotas, nem para os portugueses -, sendo urgente, premente mesmo, discutir ampla e aprofundadamente tal realidade.
Por isso mesmo, talvez eu volte ao assunto um dia destes.