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POESIA
A poesia,
com suas ideias quentes e teimosas,
seus braços quentes e teimosos, mesmo quando rápidos e frios,
é uma doença
que dissolve e rói o sangue.
É uma doença
pelo poder com que absorve o pensamento,
as sensações, o olhar, o peito,
pela incrustações com que se estende
a tudo o que rodeia o nosso corpo…
pelo egoísmo com que tece a nossa vida…
É uma doença…
apesar do seu jeito de enlaçar
com laços de nós próprios e não dela…
Mas antes a poesia ser doença
que o poema ser doença e não poesia.
(20/2/39)
Jorge de Sena (1919-1978)
(do livro «Post-scriptum II - 2º. Volume» - recolha, transcrição e notas de Mécia de Sena, co-edição Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Maio/1985)