21
Mar 13

 

*   *

 

 

POESIA

 

 

A poesia,

com suas ideias quentes e teimosas,

seus braços quentes e teimosos, mesmo quando rápidos e frios,

é uma doença

que dissolve e rói o sangue.

 

É uma doença

pelo poder com que absorve o pensamento,

as sensações, o olhar, o peito,

pela incrustações com que se estende

a tudo o que rodeia o nosso corpo…

pelo egoísmo com que tece a nossa vida…

 

É uma doença…

apesar do seu jeito de enlaçar

com laços de nós próprios e não dela…

 

Mas antes a poesia ser doença

que o poema ser doença e não poesia.

 

(20/2/39)

 

 

                                             Jorge de Sena (1919-1978)

 

(do livro «Post-scriptum II - 2º. Volume» - recolha, transcrição e notas de Mécia de Sena, co-edição Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Maio/1985)

publicado por flordocardo às 13:13
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