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XXVII
Exausto da viagem que os membros todos cansa
em busca de repouso ao leito vou depressa,
mas em nova jornada o espírito se lança
a dar labor à mente quando o do corpo cessa,
que em fervente romagem vão até ti, despertas,
estas minhas ideias se longe estou deitado
e as pálpebras pesadas se me mantêm abertas
na treva que por tudo aos cegos ver é dado.
Só que desta minh’alma a vista imaginária
me traz a tua imagem aos olhos sem visão
como jóia suspensa da noite tumultuária
tornando cintilante o rosto à escuridão.
Assim, de dia ao corpo, assim de noite à mente,
por ti e por mim mesmo, a paz não se consente.
(in «50 Sonetos de Shakespeare» - Tradução, Introdução e Notas de Vasco Graça Moura - Editorial Presença, 2ª. edição, 1987)