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Abr 13

 

 

*  *  *

 

Ciclo

O molar solitário de uma prostituta

que morrera no anonimato

tinha uma aplicação de ouro.

Os restantes, como por mudo acordo tácito,

tinham caído.

O funcionário da morgue arrancou-o,

pô-lo no prego e foi dançar.

É que, dizia ele,

só o que é da terra à terra deve voltar.

 

                                            Gottfried Benn (Alemanha, 1886-1956)

 

(do livro  «Alma e o Caos - 100 poemas expressionistas» - selecção, tradução, introdução e notas de João Barrento - Relógio D' Água, Lisboa/2001)


publicado por flordocardo às 19:12
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*   *

 

MELODIA


Este é o orvalho dos teus olhos. 
Esta é a rosa dos teus vales. 
O silêncio dos olhos está no silêncio das rosas. 
Tu estás no meio, 
entre a dor e o espanto da treva. 
Arrancas-te ao mundo e és a perfumada 
distância do mundo. 
Chego sem saber, à beira dos séculos. 
Despenho-me nos teus lagos quando para ti 
canta o cisne mais triste. 
O pólen esvoaça no meu peito, junto às tuas 
nuvens. 
Esta é a canção do teu amor. 
Esta é a voz onde vive a tua canção. 
As tuas lágrimas passam pela minha terra 
a caminho do mar.


                                  José Agostinho Baptista (n. 1948)



publicado por flordocardo às 01:12
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