* * *
Ciclo
O molar solitário de uma prostituta
que morrera no anonimato
tinha uma aplicação de ouro.
Os restantes, como por mudo acordo tácito,
tinham caído.
O funcionário da morgue arrancou-o,
pô-lo no prego e foi dançar.
É que, dizia ele,
só o que é da terra à terra deve voltar.
Gottfried Benn (Alemanha, 1886-1956)
(do livro «Alma e o Caos - 100 poemas expressionistas» - selecção, tradução, introdução e notas de João Barrento - Relógio D' Água, Lisboa/2001)