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Hoje sou professor e também turco.
Prescindo de dar mais explicações - por razões inteiramente óbvias, creio eu.
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Hoje sou professor e também turco.
Prescindo de dar mais explicações - por razões inteiramente óbvias, creio eu.
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(Recortar pedaços de vazio)
Recortar pedaços de vazio
e empilhá-los num costado
para que ninguém os preencha.
Pegar depois nesses recortes,
como fazem os alunos aplicados
com os papéis coloridos,
e armar uma casa, uma árvore, uma paisagem
ou até mesmo a figura de um homem.
Faltarão a cor e os matizes,
sobrará a transparência,
mas ninguém poderá ensaiar aí a fúria
e destroçar aquilo que não está.
E talvez, sem que ninguém preencha nada,
apareça uma cor desconhecida,
uma cor que nunca chega a apagar-se,
um cor indelével
como uma recém-nascida inexistência.
Roberto Juarroz (Argentina, 1925-1995)
(do livro «Voz Consonante – traduções de poesia» - por António Ramos Rosa, com organização de Ana Paula Coutinho Mendes – Quasi Edições, Julho/2006)