10
Jun 13

 

 

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- De um livro ainda "fresquinho", acabado de chegar às minhas mãos por insistente apelo de uma amiga. Ainda estou a lê-lo. -

 

(Há dias em que em ti talvez não pense)

 

Há dias em que em ti talvez não pense

a morte mata um pouco a memória dos vivos

é todavia claro e fotográfico o teu rosto

caído não na terra mas no fogo

e se houver dia em que não pense em ti

estarei contigo dentro do vazio

 

                                          Gastão Cruz (n. 1941)

 

(do livro «Fogo» - Assírio e Alvim, Março/2013)


publicado por flordocardo às 04:48
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09
Jun 13

 

 

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(só quando ladra na garganta, sofreado, curto, cortado)

 

só quando ladra na garganta, sofreado, curto, cortado,

a um sopro do surto,

riscado nas gengivas,

intrínseco em suas músicas ou

intransitivo:

poema perfeito prometido que não nunca

 

 

                        Herberto Hélder (n. 1930)

 

(do livro «Servidões» - Assírio & Alvim, 2013)

 

publicado por flordocardo às 03:00
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08
Jun 13

 

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(Quero uma vida em forma de espinha)

 

 

Quero uma vida em forma de espinha

Num prato azul

Quero uma vida em forma de coisa

No fundo dum sítio sozinho

Quero uma vida em forma de areia nas minhas mãos

Em forma de pão verde ou de cântara

Em forma de sapata mole

Em forma de tanglomanglo

De limpa-chaminés ou de lilás

De terra cheia de calhaus

De cabeleireiro selvagem ou de édredon louco

Quero uma vida em forma de ti

E tenho-a mas ainda não é bastante

Eu nunca estou contente

 

 

                                             Boris Vian (França, 1920-1959)

 

(do livro «Canções e Poemas» - tradução de Irene Freire Nunes e Fernando Cabral Martins - Assírio & Alvim, 1997)

publicado por flordocardo às 04:48
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06
Jun 13

 

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«Eu não tenho medo dos portugueses nem do seu julgamento.»

(Pedro Passos Coelho)


Cá para mim, só quem está mesmo aflito pode afirmar uma coisa destas.

Ele tem medo, sim. MUITO MEDO!!!


publicado por flordocardo às 23:00

05
Jun 13

 

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© Daniel Blaufuks | O Ofício de viver, 2010

 

publicado por flordocardo às 03:59
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04
Jun 13

 

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MANUAL (obviamente prático e descartável)

 

Um livro de poesia não se lê como os outros – eis o que a prática me ensinou.

 

Começa-se pelo título em boa parte das vezes claro mas depois… Lê-se o primeiro poema ou verso e segue-se por aí buscando um fio. Depois consulta-se o índice (tenho relutância intensa em ler um livro que o não tenha) e persegue-se um título, um primeiro verso que nos prenda; e vai-se a essa página ver o objecto (os poemas são object(iv)os).

Depois fecha-se o livro passeia-se com ele por aqui e por ali como se lhe déssemos ar e/ou ele fosse a chave de casa. Mais tarde volta-se a abrir o objecto-livro (o livro também deve ser um objecto agradável à curiosidade mais funda do olhar) numa página ao calhas ainda não vista ainda não lida; e segue-se mais uma página e outra e outra. Fecha-se de novo o livro.

Ao abri-lo mais adiante por vezes pára-se num poema que nos afronta que não penetramos. Instala-se alguma augústia. Arranjei para tanto uma técnica de decifração: pelo próprio punho reescrevo esse poema para o papel ou para o computador; e guardo e volto a ler. E durante esse processo e/ou no fim dele descubro coisas que antes não conseguira vislumbrar. Na maioria das vezes é através dessa nesga de luz que o poema obscuro passa a ser aceite a ser do livro a ser como que meu. Costumo ensinar este pequeno truque às pessoas de quem mais gosto.

Mais tarde ou mais cedo o livro arruma-se num qualquer lugar. Até se voltar a pegar nele e a lê-lo por vezes como os outros do princípio para o fim e na íntegra. E até meses ou anos mais tarde se voltar a tê-lo na mão por mero acaso ou não; e voltar a abri-lo numa qualquer página ou em concreta busca do poema que no seu seio entre todos os demais nos calou mais fundo. É esse poema que por norma se divulga aos amigos. Faz-se isso (e tudo isto) por necessidade de uma «vida aguda atenta a tudo» como nos diz Herberto Hélder num dos poemas do seu último livro - «Servidões».

Acresce dizer que os livros de poesia também não se arrumam como os outros. Arrumam-se à altura (e à largura) dos olhos ou um tudo nada mais acima para que nos peçam que a eles voltemos.

Um livro de poesia não se lê como os outros (e este texto também não). É certamente por isso que rarissimamente leio outros. 

 

(PS - Está uma manhã estupenda, apesar de eu ter dormido pouco mais de duas horas)


publicado por flordocardo às 10:39
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- de uma possível futura série que talvez venha a chamar-se «Circunstância(i)s» -


VERRUGA(s)

 

de um corte no queixo

ao fazer a barba

nasceu uma verruga súbita

 

afeiçoei-me a ela

 

deixei crescer a barba

mas afago-a por vezes com o polegar esquerdo

 

talvez por isso

quem sabe

tenham nascido outras

 

 

(Parede, 05.05.2013)


publicado por flordocardo às 03:42

03
Jun 13

 

 

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Aqueles que começarem a queimar livros, logo acabarão

queimando pessoas.


Heinrich Heine

publicado por flordocardo às 02:28
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02
Jun 13

 

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Manhã. Estupenda. Pequeno-almoço passado a ler o belíssimo texto que inaugura o novo livro de Herberto Helder, «Servidões», servindo-lhe de prefácio.
Ou será antes um posfácio?
Mas agora vou descansar mais um pouco. Anda o corpo mal dormido.

publicado por flordocardo às 10:57
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