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Nov 10

 

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PECADO ORIGINAL

 

É sem esforço, digo, é natural

como os naturais rebentos da lezíria,

que cresças, ó poesia, e desejes

crescer mais ainda, até ao tecto

inacabado das palavras. Não entendes,

por isso, viver entre tanto quotidiano,

tantos gestos armados de realidade:

sinais contidos, passos em frente,

domésticos, para a utilidade

de enfrentar os teus fantasmas.

Somos todos teus fantasmas,

ó poesia, ansiosos ou quebrados,

somos todos restos de ti. Por isso

te limpamos, como ao restolho,

dos nossos dias e vamos também

crescendo, cheios de impulso.

 

                                      Manuel Fernando Gonçalves (n. 1951)

 

(do livro «Fechamos a alma, ao fim da tarde, com estrondo e animação» - &etc, Janeiro/2007)

 

publicado por flordocardo às 00:29
tags:

Bonito!
Melt a 16 de Novembro de 2010 às 18:35

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