30
Nov 10

 

*   *

 

SONETO AINDA QUE NÃO

 

Como quando indiscreto às coisas me insinuo

e de infinito amor lhes dou sentido

que de mim próprio é voz e precisão

de ser um ser que sendo as reconhece,

me vejo ambíguo e distraído e firme

na vã presciência que, rememorada,

é como um estar por sempre ininterrupto,

aliciando humanamente as coisas.

 

Mas, meu amor, por ti tudo contemplo.

Por ti penetro como em ti em tudo

e torno realidade este fortuito

encontro permanente de que vivo.

 

Se noutro mundo fôra que existisses

eu te criara neste e às minhas coisas

 

                                   Jorge de Sena (1919-1978)

 

(do livro «Jorge de Sena, Poesia-III» - Moraes Editores, Lisboa, Maio/1978)

 

publicado por flordocardo às 00:19
tags:

Poema difícil, mas belo.
incógnito a 30 de Novembro de 2010 às 15:00

Bonito mas temos de nos concentrar bastante para compreender e interiorizar.
Que estejas bem
ónix a 1 de Dezembro de 2010 às 01:28

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