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SONETO AINDA QUE NÃO
Como quando indiscreto às coisas me insinuo
e de infinito amor lhes dou sentido
que de mim próprio é voz e precisão
de ser um ser que sendo as reconhece,
me vejo ambíguo e distraído e firme
na vã presciência que, rememorada,
é como um estar por sempre ininterrupto,
aliciando humanamente as coisas.
Mas, meu amor, por ti tudo contemplo.
Por ti penetro como em ti em tudo
e torno realidade este fortuito
encontro permanente de que vivo.
Se noutro mundo fôra que existisses
eu te criara neste e às minhas coisas
Jorge de Sena (1919-1978)
(do livro «Jorge de Sena, Poesia-III» - Moraes Editores, Lisboa, Maio/1978)