Finalmente encontrei o raio do livro!
Já vos posso facultar alguma poesia húngara.
* *
Quando nasci tinha uma faca na mão.
Dizem: é poesia.
Mas peguei na pena, melhor ainda que a faca.
Nasci para ser homem.
Alguém soluça uma felicidade apaixonada.
Dizem: é amor.
Chama-se ao teu seio, simplicidade das lágrimas!
Só contigo eu brinco.
Não recordo nada e também nada esqueço.
Dizem: como é possível?
O que deixo cair mantém-se sobre a terra.
Se o não encontro, tu o encontrarás.
A terra me aprisiona, o mar me dilacera.
Dizem: um dia morrerás.
Mas dizem-se tantas coisas a um homem
que nem sequer respondo.
(1936)
Attila József (Hungria, 1905-1937)
(do livro Não Sou Eu Que Grito, selecção e tradução de 31 poemas de Attila József
por Egito Gonçalves - Editora Limiar, 1986)
Luz Teimosa, 1949-52.
Fernando Lemos.