* *
AINDA DEVE SER OUTONO
Ainda deve ser outono: sob desbotadas bóinas, ressonam estróinas contra o rombo fio dos anseios, no quente-frio das sarjetas, botas rotas plantadas no rebordo dos passeios e valetas, coxos pernetas e indigentes feios, dormem, sem princípios nem meios, pernas curtas e muletas, toscos esteios sustentando sonhos e receios.
ANTÓNIO GIL (n. 1963)
(do livro «Canto desabitado» que integra a revista Ave Azul (verão 2002/2005) dedicado ao “Cânone literário português”)