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MUDANÇAS DE NOME
Aos amantes das belas letras
faço chegar meus melhores desejos
vou mudar os nomes de algumas coisas
Minha posição é esta:
o poeta não cumpre sua palavra
se não muda os nomes das coisas.
Por que razão o sol há-de continuar a chamar-se sol?
Peço que se chame Micifuz
o das botas de quarenta léguas!
Meus sapatos parecem ataúdes?
Saibam que de agora em diante
os sapatos se chamam ataúdes.
Tudo bem, a noite é longa
todo o poeta que tenha auto-estima
deve ter o seu próprio dicionário
e antes que eu esqueça
o próprio deus deve mudar de nome
que cada um o chame como queira:
este é um problema pessoal.
Nicanor Parra (Chile, n. 1914)
(do livro «Poemas de salón - 1954-1962» - dado à estampa em 1962)