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Só agora descobri este artigo publicado em Outubro na revista «Visão», mas o mesmo terá hoje mais actualidade do que nunca. Leiam, se faz favor, isto que tomo a liberdade de transcrever.

 

 

 

            O Quarto Reich          

            A guerra pode ter já recomeçado         

Filipe Luís
8:55 Quarta feira,  5 de Out de 2011                 
 

A inflamada declaração de Angela Merkel, numa entrevista à televisão pública  alemã, ARD, em que sugere a perda de soberania para os países incumpridores das  metas orçamentais, bem como a revelação sobre o papel da célebre família alemã  Quandt, durante o Terceiro Reich, ligam-se, como peças de puzzle, a uma cadeia  de coincidências inquietantes. Gunther Quandt foi, nos anos 40, o patriarca de  uma família que ainda hoje controla a BMW e gere uma fortuna de 20 mil milhões  de euros. Compaghon de route de Hitler, filiado no partido Nazi, relacionado com  Joseph Goebbels, Quandt beneficiou, como quase todos os barões da pesada  indústria alemã, de mão-de-obra escrava, recrutada entre judeus, polacos,  checos, húngaros, russos, mas também franceses e belgas. Depois da guerra, um  seu filho, Herbert, também envolvido com Hitler, salvou a BMW da insolvência,  tornando-se, no final dos anos 50, uma das grandes figuras do milagre económico  alemão. Esta investigação, que iliba a BMW mas não o antigo chefe do clã Quandt,  pode ser a abertura de uma verdadeira caixa de Pandora. Afinal, o poderio da  indústria alemã assentaria diretamente num sistema bélico baseado na  escravatura, na pilhagem e no massacre. E os seus beneficiários nunca teriam  sido punidos, nem os seus empórios desmantelados.

As discussões do pós-Guerra, incluíam, para alguns estrategas, a  desindustrialização pura e simples da Alemanha - algo que o Plano Marshal, as  necessidades da Guerra Fria e os fundadores da Comunidade Económica Europeia  evitaram. Assim, o poderio teutónico manteve-se como motor da Europa. Gunther e  Herbert Quandt foram protagonistas deste desfecho.

Esta história invoca um romance recente de um jornalista e escritor de origem  britânica, a viver na Hungria, intitulado "O protocolo Budapeste". No livro,  Adam Lebor ficciona sobre um suposto diretório alemão, que teria como missão  restabelecer o domínio da Alemanha, não pela força das armas, mas da economia.  Um dos passos fulcrais seria o da criação de uma moeda única que obrigasse os  países a submeterem-se a uma ditadura orçamental imposta desde Berlim. O outro,  descapitalizar os Estados periféricos, provocar o seu endividamento,  atacando-os, depois, pela asfixia dos juros da dívida, de forma a passar a  controlar, por preços de saldo, empresas estatais estratégicas, através de  privatizações forçadas. Para isso, o diretório faria eleger governos dóceis em  toda a Europa, munindo-se de políticos-fantoche em cargos decisivos em Bruxelas - presidência da Comissão e, finalmente, presidência da União  Europeia.

Adam Lebor não é português - nem a narração da sua trama se desenvolve cá.  Mas os pontos de contacto com a realidade, tão eloquentemente avivada pelas  declarações de Merkel, são irresistíveis. Aliás, "não é muito inteligente  imaginar que numa casa tão apinhada como a Europa, uma comunidade de povos seja  capaz de manter diferentes sistemas legais e diferentes conceitos legais durante  muito tempo." Quem disse isto foi Adolf Hitler. A pax germânica seria o destino  de "um continente em paz, livre das suas barreiras e obstáculos, onde a história  e a geografia se encontram, finalmente, reconciliadas" - palavras de Giscard  d'Estaing, redator do projeto de Constituição europeia.

É um facto que a Europa aparenta estar em paz. Mas a guerra pode ter já  recomeçado.

 

publicado por flordocardo às 22:23
tags:

Bem observado!
Abraço!
Melt a 3 de Dezembro de 2011 às 17:50

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