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Dez 11

 

*   *

 

A um homem do passado

 

Estes são os tempos futuros que temia
o teu coração que mirrou sob pedras,
que podes recear agora tão fundo,
onde não chegam as aflições nem as palavras duras?

Desceste em andamento; afinal era
tudo tão inevitável como o resto.
Viraste-te para o outro lado e sumiram-se
da tua vista os bons e os maus momentos.

Tu ainda tinhas essa porta à mão.
(Aposto que a passaste com uma vénia desdenhosa.)
Agora já não é possível morrer ou,
pelo menos, já não chega fechar os olhos.

                                                                    Manuel António Pina (n. 1943)

 

(do livro «Nenhum sítio» - 1984)

 

publicado por flordocardo às 01:09
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porto santo a 7 de Dezembro de 2011 às 20:55

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