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(estou tão perto que me movo dentro de ti)
estou tão perto que me movo dentro de ti.
tão perto que sinto este poema desabitado.
estou tão perto. eu sei. tão perto que me dói a boca.
de tão fulgente. de tão incessante que é a água.
tão perto que as palavras saem do mesmo rumor.
como se ardessem no mesmo gesto atado.
assim tão perto. tão perto que nem te posso mostrar
o mar aberto. a colina acesa à nossa frente.
mas sentes ao menos a distância invocada da procura?
a estrela profunda da noite. a vereda do paraíso.
que vai deste poema ao lugar onde te condensas?
sentes como o vão infinito das palavras inexiste?
como elas se não desvendam e passam sem te tocar?
Daniel Gonçalves (n. 1975)
(do livro «Um lugar onde supor o silêncio» - Labirinto, 2003)