15
Jan 12

 

*   *   *

 

A CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

 

Não há guarda-chuva

contra o poema

subindo de regiões onde tudo é surpresa

como uma flor mesmo num canteiro.

 

Não há guarda-chuva

contra o amor

que mastiga e cospe como qualquer boca,

que tritura como um desastre.

 

Não há guarda-chuva

contra o tédio:

o tédio das quatro paredes, das quatro

estações, dos quatro pontos cardeais.

 

Não há guarda-chuva

contra o mundo

cada dia devorado nos jornais

sob as espécies de papel e tinta.

 

Não há guarda-chuva

contra o tempo

rio fluindo sob a casa, correnteza

carregando os dias, os cabelos.

                                            
                                                   João Cabral de Melo Neto (Brasil, 1920 - 1999)

 (do livro «Duas Águas (Poemas Reunidos)» - José Olympio, Rio de Janeiro/1956).

 

publicado por flordocardo às 00:07
tags:

certeiro no tempo...
porto santo a 15 de Janeiro de 2012 às 23:54

Janeiro 2012
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9
11
12
13

17




Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO