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Que é feito da “Primavera Árabe”?
Fez-me confusão, desde o primeiro momento, o fulgurante alastrar da revolta na Tunísia ao Egipto, à Líbia, ao Iémen e a outros países do norte de África, da Península Arábica e do Próximo Oriente.
As dúvidas que eu tinha começaram a ficar mais claras com o caso da Líbia, ou seja, com a intervenção da NATO naquele país. E desvaneceram-se agora completamente com o caso da Síria.
Todos sabemos o que se passou na Líbia. E todos sabemos que em nenhum país da famigerada “Primavera Árabe” a violência terminou e os respectivos povos gozam agora de liberdade, de democracia e de pão para a boca. As ditaduras existentes nos países em apreço foram sistematicamente substituídas por ditaduras militares directamente controladas pela CIA - a mesma CIA que terá certamente fomentado, minuciosamente, a “indignação” verificada em tais países. Significativamente, aliás, não se registaram tumultos nem “indignações” na Arábia Saudita ou no Bahreim, por exemplo, países com ditaduras medievais, mas aliados dos EUA…
Neste momento, aliás, é já público que milícias estrangeiras, nomeadamente líbias, estão a actuar na Síria contra o regime de Assad.
A manobra
Fora isto - que já não é pouco -, eis que os EUA levaram a questão Síria ao Conselho de Segurança da ONU, tentando fazer aprovar uma resolução semelhante à que haviam aprovado contra a Líbia o ano passado. China e Rússia vetaram (por ora?) a resolução. Mas a secretária de Estado Hillary Clinton veio já propor, sem hesitações, a criação de uma coligação de países que, sob a direcção do imperialismo norte-americano e servindo-se da NATO, façam na Síria o mesmo que fizeram na Líbia.
Creio que estamos em presença de uma manobra orquestrada pelo imperialismo ianque contra os governos hostis ou não inteiramente controláveis, com vista ao domínio da zona e à preparação político-militar do ataque ao Irão e, de passagem, à liquidação da justa luta do povo palestiniano.
Porém, uma aventura militar na Síria ou no Irão, à semelhança do que aconteceu na última invasão do Iraque, terá consequências muito sérias para os países agressores, como também as teve no Iraque, que terminou com uma monumental derrota político-militar do imperialismo ianque e seus lacaios.
Por cá, os “patriotas” do costume, com Passos Coelho e Paulo Portas à cabeça, têm apelado à intervenção na Síria, atirando mais uma vez para o lixo o Artº. 7º. da nossa Constituição, que estipula o princípio da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados.
A luta
Tão ou mais grave tem sido a posição assumida sobre estes assuntos pelo PCP, o BE e o PS, onde vária gente chegou a comparar a “Primavera Árabe” ao 25 de Abril em Portugal… Pois é!...
Devemos denunciar e combater as manobras do imperialismo e exigir a saída imediata de Portugal da NATO, organização que mais uma vez se prepara para ser o instrumento político-militar de uma agressão.
O imperialismo é a guerra, mas, unidos, os povos do mundo podem derrotar o imperialismo norte-americano, o qual se encontra cada vez mais isolado.
Estarei errado?
(PS – Convirá ter presente que a Síria, para além de ter saída para o Mar Mediterrâneo (zona do país onde a Rússia dispõe de uma base naval), tem ainda fronteiras com o Líbano, Israel, Turquia, Iraque e Jordânia)