Voltamos de novo à chamada Primavera Árabe, para examinar a natureza de classe das revoltas ocorridas no Próximo Oriente e combater o ponto de vista daqueles que, em Portugal, se recusam a ver a marca do imperialismo ianque e da CIA no desencadeamento ou na condução desses movimentos.
Não há nem houve – talvez com excepção do Barein – nenhuma revolução popular no Oriente Próximo, conduzida por forças revolucionárias democráticas, como pretendem os órgãos de comunicação ocidentais e, na esteira deles, os oportunistas de todos os matizes, desde o Bloco à coligação PSD/CDS, passando pelo partido socialista e pelo PCP, este com hesitações verdadeiramente cómicas, visto que também achou, durante um curto período de tempo, que as movimentações na Líbia eram uma espécie de 25 de Abril.
O reino do Barein é um micro-estado dirigido pela família sunita Al-Califa, controlada pela Arábia Saudita, assente num pequeno arquipélago à entrada do Golfo Pérsico, que sobrenada em petróleo.
No dia 14 de Fevereiro de 2011, fez anteontem um ano, um poderoso movimento popular ergueu-se em todo o arquipélago e dirigiu-se para a Praça da Pérola, na cidade de Manama, capital do Estado.
Cerca de metade dos insurrectos, desarmados, eram mulheres, exigindo direitos e liberdades iguais aos dos homens, e a outra metade era constituída por jovens, estudantes e desempregados.
A revolta foi esmagada por helicópteros e carros de combate dos Estados Unidos, através das forças armadas da Arábia Saudita, o mais medieval e reaccionário de todos os Estados do Golfo.
A resistência à família Al-Califa, à intervenção da Arábia Saudita e ao imperialismo americano continua, em condições extremamente difíceis e na mais estrita clandestinidade, dada a pequenez do território, conduzida pelo Grupo do 14 de Fevereiro e com o apoio da população, na sua esmagadora maioria xiita.
No fim de Janeiro, foi lançado o movimento Os Punhos da Revolução, que procurou ocupar anteontem a Praça da Pérola, e em cuja capital, Manama, tem estado a haver combates contra a polícia e reforços sauditas.
Como já aqui o dissemos, Obama, – ou seja, o imperialismo americano e a CIA – vendeu, em Outubro do ano passado, à família real do Barein 44 veículos couraçados, para juntar aos helicópteros Apache, que tinham esmagado o movimento popular da Praça da Pérola.
A conclusão de tudo isto é simples: no único país do Oriente Próximo onde houve verdadeiramente uma insurreição popular, de carácter e natureza democráticos, não só o movimento foi prontamente esmagado pelo imperialismo e seus lacaios, como a comunicação social ocidental não lhe fez nenhuma referência, nem sequer para denunciar a violência da reacção contra o povo, nem a brutalidade e desproporção de meios utilizados contra as massas de simples manifestantes.
Em contrapartida, os movimentos conduzidos pela CIA no Próximo Oriente (casos da Líbia e da Síria, para só referir dois deles) são apresentados como lutas do povo pelos direitos humanos contra a barbárie, contra os massacres e contra o genocídio.
A verdade é que a propaganda imperialista e reaccionária dos órgãos de comunicação social portugueses acaba por minar uma parte da opinião pública nacional, colocando-a ao lado dos imperialistas.
Essas ideias erróneas subvertem o movimento operário em Portugal e no mundo e, por isso, devem ser firmemente combatidas, porque tais ideias reaccionárias também penetram nas nossas fileiras.
Voltaremos ao assunto.