03
Jan 10

 

É o meu segundo poema deste ano novo. Consumiu-me largas horas e horas deste dia. Talvez ainda impuro esteja, mas tinha que o pôr hoje aqui.
 
*
 
 
E SE EU…
 
(a todos os meus amigos)
 
 
E se eu vos falasse dos mortos e dos vivos
do que passa e do que fica pelas janelas
altas da dor e do espanto álacre dos dias?
 
E se eu vos desse um pouco mais deste sangue
da ventosa vela azul que sustenta os pássaros
da tremura que acende minhas magras mãos?
 
E se eu vos revelasse um exorcismo de olhos
que não acabam e são de certos lábios outra face
a outra parede de uma casa térrea e doce?
 
E se eu vos oferecesse um beijo ardente
um abraço igual ao dos ilhéus ao visitante
depois da bruma do inicial receio?
 
E se eu acabasse de vez por entre os muros
ou nuvens que esqueceram o seu rumo
ou uma viga sem memória de ter feito tanto?
 
E se eu vos mostrasse a impressão de que parto
tarde como um pedreiro que sai da sua obra
ou cão que não encontra a casa onde (re)nasceu?
 
E se eu vos dissesse que o mar é já ali
e me sustenta o corpo raso e afluente
porque eu amo entre as hastes de quem amo?
 
 
Cruz Quebrada, 03.01.2010

 

                                               Passing Away Into Unseen Worlds  -  Andy Kehoe

 

 

publicado por flordocardo às 20:55

Oh, nem sei que te diga... De força? Isso daria tema para uma grande conversa. Talvez fosse bom tê-la um dia, quem sabe :)
Não acho que passar mais um dia seja coisa má! Pelo contrário. E ainda que o corpo se gaste - e bastante! - creio que o verdadeiro (e o terrível) envelhecimento é o da mente! Alegra-te por mais um vinco na tua pele; é sagrada de tantas histórias que conta :)

Bjitos também para ti ^^

Ana a 9 de Julho de 2010 às 15:15

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