* * *
UM CÉU POR ACABAR
O desânimo interrompe o seu curso.
A angústia interrompe o seu curso.
O abutre interrompe o seu voo.
A luminosidade impaciente escoa-se,
até os fantasmas pedem um copo de três.
Pinturas rupestres vêm à luz,
animais em ocre vermelho de um ateliê glaciar.
Todo o existente olha à sua volta.
O astro-rei é adorado.
Cada ser humano é uma porta entreaberta
que conduz a um quarto para todos.
O solo imenso no qual caminhamos.
Por entre o arvoredo, a água da chuva ilumina.
Lagos são janelas com vista para a terra.
Tomas Tranströmer (n. Suécia, 1931)
(do livro «50 Poemas» - tradução de Alexandre Pastor, Relógio d'Água/2012)