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Tanto chinfrim se registou neste último fim-de-semana em volta de Louça e do BE que me vi obrigado a ler a “carta” que homem deu a público no facebook e que originou o dito chinfrim mediático. E afinal…
Afinal, tanto barulho por nada. Nem na forma, nem no conteúdo.
Louça simula uma carta, para que o destinatário a leia «antes de qualquer outra pessoa». Eu sei que os portes de correio estão caros. Mas simular uma missiva pessoal através de um meio acessível a qualquer internauta do facebook não deixa de ser curioso, no mínimo…
Depois ficamos a saber uma série de futilidades: que o porta-voz já não quer ser porta-voz; que ele fez «mais de um milhão de quilómetros pelas estradas»; que ele discutiu «com cinco primeiros-ministros e disse-lhes do que é esta esquerda moderna e socialista»; que ele publicou «onze livros de investigação científica ou de ensaio político», etc.
Posto isto, segue-se o que se pode chamar de legado político do homem. «Temos que rejeitar a devastação da troika». Como? Impondo, nomeadamente, «o cancelamento da dívida abusiva» (só a «abusiva»!!!...). E, para a questão da direcção do BE, Louça propõe uma solução própria do «século XXI» (século que já leva uns anitos de vida): sugere «que a nova representação do Bloco seja assegurada por um homem e uma mulher». Parece que o “monarca”, enfim, propõe uma solução dinástica à século XIX, mas com uma nuance bicéfala, à «século XXI»…
Foi sobre este último aspecto que o chinfrim se instalou. Porque quanto à política… Ah, a política meus senhores e minhas senhoras… Quanto a isso - venha ela de Louça ou dos arautos mediáticos do reino - a indigência é total!
No fundo dos fundos, a “carta” do ainda porta-voz do BE (relevantemente escrita, aliás, em «acordês» escorreito…) é reveladora do impasse político a que, mais tarde ou mais cedo, o Bloco havia de chegar e que tanto mais se evidenciará quanto mais a crise do capitalismo se aprofundar.
O facto é que o BE não tem alternativa política para o que se está a passar. Ele faz parte daquela “esquerda” cuja “solução” passa por menos troika e mais Europa, como se a primeira não fosse o resultado prático da segunda e como se a União Europeia não estivesse, também ela, numa crise insolúvel (enquanto apregoado e quimérico lugar de “liberdade”, de “paz” e de “progresso”). O Socialismo, na boca do BE, não passa (nunca passou) de um mero engodo.
O Bloco e Louça vão continuar por aí? Vão, sim senhor. Mas como zombies, podem crer. E isso é, no meu ponto de vista, um progresso.