Edna St. Vincente Millay (EUA, 1892–1951)
«…publicou numerosos livros de poesia, que, nem sempre libertos da retórica romântica, representam a independência feminina dos anos 20. É ela uma espécie de Florbela Espanca norte-americana, com uma consciência social que esta não teve, e uma deliberada elegância não-sentimental que torna modernos muitos dos seus versos que, naquela época, foram famosíssimos na língua inglesa.»
(do livro «Poesia do Século XX (de Thomas Hardy a C. V. Cattaneo)»; antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena – Editorial Inova, 1978).
Dou-vos hoje, desta autora, o poema que se segue (um soneto) - na sua versão original (exposta em «Selected Poems», Perennial Classics, 1992), seguida da tradução feita por Jorge de Sena e incluída da obra anteriormente citada. Bem me custou a encontrá-la, pois não tinha a certeza se Sena a chegara a pôr em livro; mas lá a acabei por descobrir, assim me poupando a uma certamente precária tradução.
* *
What Lips My Lips Have Kissed, And Where, And Why
What lips my lips have kissed, and where, and why,
I have forgotten, and what arms have lain
Under my head till morning; but the rain
Is full of ghosts tonight, that tap and sigh
Upon the glass and listen for reply,
And in my heart there stirs a quiet pain
For unremembered lads that not again
Will turn to me at midnight with a cry.
Thus in winter stands the lonely tree,
Nor knows what birds have vanished one by one,
Yet knows its boughs more silent than before:
I cannot say what loves have come and gone,
I only know that summer sang in me
A little while, that in me sings no more.
*
Que lábios os meus lábios já beijaram,
Onde e porquê, esqueci, como em que braços
Até pela manhã tive a cabeça;
Mas esta noite a chuva traz espectros
Que batem na vidraça, à escuta, à espera;
E uma saudade calma há no meu peito,
De jovens que não lembro e nunca mais,
Noite alta, me desejam num soluço.
Qual árvore isolada, assim, no Inverno
Não sabe de aves idas uma a uma
E só seus ramos sabe mais silentes,
Não sei que amores vieram e partiram:
Apenas sei que o Verão em mim cantou
Um breve tempo, e já não canta mais.
(ver post de 13 de Maio de 2009, onde é feita referência a este poema)