17
Fev 13

 

 

*   *   *

 

 

(a rectidão da água; o crescimento)
 

a rectidão da água; o crescimento

das avenidas, ao anoitecer, sob a nua

vibração dos faróis;

 

o laço, mesmo, das portas

entreabertas, onde a luz

silenciosa se demora;

 

são memórias, decerto, de um anterior

esquecimento, uma inocente

fadiga das coisas,

 
como os corpos calados, abandonados

na véspera da guerra, o teu

jeito para 

 

o desalinho branco das palavras,

altas as

asas de nuvens no clarão do céu

 

em vão rigor abrindo

o destinado enigma: assim

desconhecer-te cada dia mais

 

ausente de recados e colheitas,

em assustado bosque, em sombra

clareira,

 

ao risco dos rios frívolos descendo

seixos polidos, desinscritos,

imóveis movendo 

 

a luz do dia;

a margem recortada, aonde vivem

ausentes e seguros, os luminosos

 

animais do inverno;

assim são na verdade os muros claros;

assim respira o tempo, a terra intensa.


                                    António Franco Alexandre (n. 1944)

 

(do livro «A Pequena Face» - Assírio & Alvim, 1983)

 

 

publicado por flordocardo às 01:03
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