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Mar 13

 

 

* *

 

LXVI

 

 

À morte peço a paz, já farto disto tudo,

farto de ver o mérito a mendigar o pão,

e ornar a inanidade o mais rico veludo,

e a mais ingénua fé rasgada na traição,

e o ouro de honrarias em despejados bustos,

e toda a virgindade à bruta rebentada,

e a justa perfeição nos trapos mais injustos,

e o valor contra a inépcia já não valer de nada,

e à força a autoridade na arte pôr mordaça,

e doutorais pedantes dar ao talento lei,

e a mais simples verdade por lorpa como passa,

e no cativo bem o mal ser sempre rei.

     Já farto disto tudo, não mudo de caminho

     pra não deixar, morrendo, o meu amor sozinho.

 

(in «50 Sonetos de Shakespeare» - Tradução, Introdução e Notas de Vasco Graça Moura - Editorial Presença, 2ª. edição, 1987)

 

publicado por flordocardo às 23:42
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