* * *
INVENTÁRIO
Que fiz de meu dia?
Tanta correria.
E que fiz da noite?
O lanho do açoite.
Da manhã, que fiz?
Uma cicatriz.
Bolas, desta vida
que lembrança lida,
cantada, sonhada,
ficará do nada
que fui eu, cordato?
Mancha no retrato.
Carlos Drummond de Andrade (Brasil, 1902-1987)
(do livro «Viola de Bolso» (1952) - in «Obra Poética, 8º Volume» - Publicações Europa-América, 1989)