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Depois de um arremedo de privatização, no decurso do qual surgiu um concorrente russo, o governo Coelho/Portas e o seu ministro da Defesa, Aguiar Branco, optaram por conceder à empresa Martifer (cotada em Bolsa) uma subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENCV).
No âmbito desta decisão, a Martifer (empresa com dívidas estimadas acima dos 370 milhões de euros) despede os cerca de 610 trabalhadores da ENCV, comprometendo-se a admitir 400 desde que "venha a ter encomendas" para tanto, passando a pagar ao Estado 415 mil euros de renda por ano durante os 17 anos de vigência da subconcessão, ou seja, cerca 7 milhões e 55 mil euros, enquanto o Estado (nós!) fica com o encargo de indemnizar os trabalhadores despedidos através de um montante de aproximadamente 30 milhões de euros - ou seja, e em média, cerca de 49 mil euros de indemnização por trabalhador. O governo acrescenta que podem ainda vir a efectivar-se as reformas de mais de 200 dos actuais 610 trabalhadores da ENCV, pelo que, contas feitas, ninguém ficaria no desemprego...
Para Aguiar Branco e companhia estamos em presença de uma solução de "renascimento" dos ENCV, para já não falar do "patriotismo" da coisa, já que os ENCV ficam em mãos portuguesas...
Todavia, como é evidente para todo aquele e aquela que não se vendeu, nem de corpo nem de alma ao Capital, estamos em presença de um negócio entre canalhas e que de patriótico nada tem!
Os estaleiros em questão são actualmente os de maior capacidade instalada no país - um país cujos responsáveis políticos, ao mesmo tempo que fazem negócios deste calibre, tanto falam, há anos, da "economia do mar"... -, os únicos hoje com capacidade para construir e reparar navios de grande porte.
Canalhas são ainda os senhores instalados na Comissão Europeia em Bruxelas, os quais consideraram ilegais os apoios prestados pelo Estado português aos ENCV, depois de mancomunados com os partidos do poder em Portugal terem há muito tratado de liquidar, entre outos sectores, o da indústria de construção e reparação naval nacional. O presente negócio visa culminar, de certo modo, essa política rapace e assassina.
Assim, esta situação prova de novo, à evidência, a urgência nacional, democrática e patriótica, de sairmos do euro e da UE - "união" dentro de cujo espartilho nada se pode de facto construir e desenvolver.
Canalhas são ainda os administradores "públicos" dos ENCV, que há meses e meses vêm fazendo o jogo do governo e exercendo uma gestão absolutamente danosa da empresa.
Para mim, o caso dos ENCV faz-me logo vir à mente o caso BPN, o caso das PPPs e o caso da TSU, entre outos. Mas torna-me também ainda mais convicto de que lutar é a única coisa que resta aos operários e demais trabalhadores dos ENCV, assim como à esmagadora maioria do nosso povo - esse que não se deixa facilmente endrominar pelas falas mansas do governo e seus tribunos.
Em plenário ontem realizado, os trabalhadores dos ENCV apelaram a que Viana do Castelo paralise no próximo dia 13 de Dezembro, em solidariedade com a luta que eles valentemente vêm travando. Direi mesmo que é o país que deve parar nesse dia!
Direi ainda que não basta pedir a demissão do ministro, pois o que se deve reclamar e exigir é a demissão do governo vende-pátrias Coelho/Portas!
Dia 13, todos a Viana!