Vai para um ano e tal que comprei o CD de Aldina Duarte intitulado «Crua».
Trata-se de Fado. Falamos de 12 fados com letras de João Monge, sobre músicas do fado tradicional. Fados que, na voz de Aldina Duarte, primeiro se estranham e depois se entranham - como diria Fernando Pessoa.
O fado 7, «Flor do Cardo», por circunstâncias 99% inexplicáveis, entranhou-se-me fundo.
Quando imaginei criar um blogue, «Flor do Cardo» foi desde logo um dos títulos que, entre outros, me ocorreu. E acabou por persistir.
Até por… …
A flor do cardo a que me refiro (cynara cardunculus) eclode no final da Primavera e é colhida nos meses de Junho e Julho. Posta a secar, é passada depois por água quente. A espécie de “chá” daí resultante serve para fazer o coalho do leite, em queijos tão saborosos como o queijo da Serra da Estrela, o queijo de Serpa ou o queijo de Azeitão. A flor desta espécie de alcachofra é, assim, fundamental na queijaria tradicional portuguesa, mas também na de outros países do Mediterrâneo.
A flor do cardo contém uma enzima denominada ciprozina. É esta que provoca a coagulação do leite.
O cardo nasce expontaneamente.
Eis a explicação que vos devia. A voz de Aldina, a poesia de Monge, a cynara cardunculus, a flor (e os espinhos), a expontaneidade, a ciprozina, o leite e o queijo tradicional na perfeição se conjugaram neste peito para dar à luz este blogue nascido em Abril. Só falta o pão e o vinho...
Sendo que… «O que faz falta é um 26 de Abril.»
Quem tal afirmou foi Eduardo Lourenço, a propósito do 25 de Abril, ao «Diário de Notícias».
Neste «um», indefinido por excelência, é que está o busílis da questão.
Talvez seja imperioso trocar os cravos pelos cardos…
Como vêem, isto anda tudo ligado!